A tendência humana é achar culpados externos para suas cagadas internas. Não fomos nós, foram eles, os culpados são os outros. No caso da tragédia do Rio Grande do Sul, a culpa é da natureza. Por puro capricho, ela resolveu revirar a casa, lavar salas, varandas e banheiros, destruir todos os móveis e ainda eliminar bichos, crianças, idosos e pobres de quebra. A imbatível, incontrolável e impiedosa natureza.
Para valorizar o tamanho do adversário, dão-lhe nomes exóticos. Chamam de El Niño e La Niña e ainda os classificam de fenômenos naturais. Como não se intimidar com essas potentes crianças naturalmente hiperativas, deselegantes e perversas?
Então os humanos inocentes elaboram teorias em nome da ciência, palavras douradas, intraduziveis e suficientes. Tudo é resultado das variações de temperaturas da porção equatorial do Oceano Pacífico. Quando as águas aquecem 0,5º C é menino; quando esfriam abaixo de 0,5º C é menina.
Foi essa brincadeira nos mares distantes do nosso Oceano Atlântico que acabam de afundar praticamente um estado inteiro.
Ninguém fala dos desmatamentos, dos milhões de hectares de terras devastadas no planeta. Ninguém fala das sondas de petroleo invasoras, das destruições da fauna, dos planctons, dos corais, nem fala do lixo tóxico e da poluição das cidades cujos resultados desaguam nos mares. Ninguém fala dos custos da civilização industrial, tecnológica, moderna. A natureza é a responsável e não há como castigá-la.
Fazendo a sua parte, o inocente governo do Rio Grande do Sul acaba de aprovar projeto na CCJ da Câmara de Deputados para desmatar 48 milhões de matas nativas. Obvio que isso não tem como afetar a temperatura da porção equatorial do Oceano Pacífico, qualquer um sabe. Nem irá abalar os humores e as temperaturas das duas crianças brincalhonas como elefantes numa sala de cristais.
Então é provável que quando as águas baixarem, os dinheiros entrarem, o plano marshal se concretizar e o tempo do esquecimento chegar, os 48 milhões de hectares de matas sejam devastados. Qualquer um sabe que as crianças inquietas do Pacífico não ligam para os adultos insanos do Atlântico.
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