
Todo mundo sabe que SOL é vida. Sem ele nada existiria sobre a terra. Não existiriam florestas, bichos, mares, rios, não existiria fotossíntese nem oxigênio. Nós humanos não existiríamos. Sempre aliado da vida, a partir de meados do século XX o sol passou a ser considerado inimigo. Uma poderosa campanha patrocinada por empresas e governos transformaram a estrela em vilã da vida moderna. O objetivo foi alcançado - conseguiram associar o sol a doenças e o ligaram definitivamente ao câncer de pele, o de maior incidência no mundo.
Comecei a desconfiar dessa responsabilidade solar quando meu pai teve esse cancer. A doença destruiu seu corpo sobretudo pelos tratamentos violentos, enquanto os médicos atribuiam ao sol a causa do sofrimento.
Como poderia ser culpado se o velho vivia na sombra, confinado entre o trabalho e a casa? Raramente ia à praia. Na roça, era sempre com chapéu, botas e camisas de manga comprida. Meu pai não tomava sol.
Fui pesquisar. Acabei descobrindo que a causa do câncer dele não foi de "fora pra dentro", mas de dentro pra fora. Seu corpo sucumbiu ao vício da vida industrializada, do açúcar, dos laticinios, do trigo, das carnes processadas. Não bebia álcool e nunca fumou, mas não dispensava um refrigerante. Seu café era metade açúcar. Bebia leite de caixa como água. Tinha outro detalhe, o velho tomava até quatro banhos por dia, todos quentes pelando com muita espuma de sabonete. O industrializado século XX matou meu pai, em 2006, mas a culpa foi do sol.
O MAIS LETAL
O câncer de pele é o que mais mata no Brasil, cerca de 31,3% de todos os casos. O Instituto Nacional do Cancer, INCA, estima que até 2025 serão 704 mil novos casos. Agora a surpresa, 70% nas regiões Sul, Sudeste e Centro Oeste, as de maiores Indice de Desenvolvimento Humano, IDH. Nessas regiões, o consumo de industrializados bate todos os recordes assim como o uso de produtos de beleza e de higiene corporal, igualmente cancerígenos, sabe-se hoje. São Paulo, Curitiba, Porto Alegre e Brasília à frente.
O detalhe é que o sol nessas regiões devastadas e poluidas passa boa parte do tempo escondido sob nuvens e camadas de CO2. Mas a astuciosa indústria espalha que o problema está nele. E as pessoas acreditam. Não é interessante que o astro também brilhava no anos 50 quando os casos de cancer no Brasil eram raridade, ao contrário de Europa e Estados Unidos, países já industrializados e poluidos? Dinamarca, Holanda, Noruega, Alemanha são hoje paises com alta incidência e sabe-se que o sol por lá não é assim muito presente.
BODE EXPIATÓRIO
Os anos 70 chegaram ao Brasil com aumento de casos, junto ao início da industrialização. Como o sistema não poderia assumir que o avanço do capitalismo era responsável pelos casos de neoplasia de pele, foi preciso arranjar um bode expiatório. Nada melhor que o sol, quem iria contestar?
A partir dos anos 80, as indústrias farmacêuticas e de beleza passaram a surfar nessa onda. Uma mina sem fim. Desde então, nunca se vendeu tanto protetor solar - protetor, alias, é um termo recente já que a Anvisa proibiu o anterior "bloqueador solar". Protetor parece mais fofo.
O que se omite é que protetores solares são fontes de doenças. A maioria usa filtros químicos de até seis ingredientes ativos: oxibenzona, avobenzona, octisalato, octocrileno, homosalato e octinoxato. Já os filtros minerais utilizam óxido de zinco ou óxido de titânio. Tudo isso na pele, a nossa maior "boca".
O estrago é grande. Os filtros químicos diminuem níveis de hormônios em homens e mulheres, além de causar alergias. A oxibenzona diminui os níveis de testosterona. Pesquisadores encontraram o químico em mais de 96% da população dos EUA, boa parte de adolescentes. Em 85% das mulheres que amamentam, encontraram altos níveis do produto, indicando contaminação também nos bebês.
A oxibenzona e o octinoxato afetam diretamente a reprodução e o desenvolvimento, alterando hormônios da tireóide. Reduz ainda a produção de espermatozoides, atrasa a puberdade e piora a qualidade espermática. Nas mulheres, estão ligados a casos de endometriose. A indústria toca o barco e investe pesado em novos produtos. No Brasil, são 3.351 tipos de protetores autorizados.
Segundo o portal das farmácias InterPlayers, a venda de protetores aumentou 50% em 2023 em relação ao ano anterior. Este ano, deve superar os 56%. Isso significa mais de R$ 7 bilhões - só o "Sun Care" deve faturar, sozinho, R$ 4,1 bi. O mercado mundial que estava retraido prevê faturar U$ 15 bilhões, com um tímido crescimento de 13%.
E os casos de cancer de pele só aumentam, seguido pelos de mama, estômago, próstata, intestino e tantos outros. A culpa pela alta incidência dos demais é da ciência, da falta de pesquisas e da dificuldade em achar a tal cura milagrosa. Mas o câncer de pele, todo mundo sabe, a culpa é do sol.
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