Eu nao vivo no Brasil,
nem na Bahia ou Rio ou Sao Paulo
nem na America do Sul nem no Planeta Terra.
Eu vivo em meu corpo.
Ele guarda e protege o que sou.
Sensações, vibrações, moléculas
atomos, energia, vida.
Posso viajar até Marte e meu corpo irá junto como uma nave dentro de outra.
Posso estar numa multidão e meu corpo será meu refugio mesmo estando além.
Quantas vezes estive só com meu corpo e meus pensamentos num metrô lotado de outros corpos e tantos pensamentos.
Por isso, pouco adianta mudar de lugar se o corpo não mudar de perspectiva, não mudar o olhar.
Esse corpo alugado por temporada.
Enquanto não der pra mudar de corpo, estarei com esse do jeito que for. Se o tratar bem, estarei com ele arrumado. Se o tratar mal, estarei em conflito.
Porque apesar de ser meu o corpo, mesmo provisório, ele tem inteligência propria que é maior do que imagino ser a minha.
IGNORANCIAS
Quantas pessoas sabem que vivem no corpo? Que está com ele todo o tempo e não sabe o que representa nem o que fazer?
Acham que vivem no apartamento, no bairro, vivem na mansão ou no casebre. Acham que vivem com fulano, com fulana. Essa é uma das ilusões mais frequentes.
Arrumam as casas, mudam os móveis, limpam todos os comodos com extremo rigor. Casa limpa e cheirosa. Mas o corpo inundado de lixos industriais, com substancias que não usariam nem no banheiro.
O corpo é uma nave orgânica com instrumentos altamente sofisticados. Quando ele adoece, são esses instrumentos agindo para regenerar o sistema. Se mesmo assim continuar sendo maltratado, ele dará um boot e interromperá o projeto. Mas o conteúdo da casa, a substancia que a faz viva continuará como memorias e consciência cósmica até que em algum tempo universal possa, de novo, alugar nova casa para nova temporada.
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