Seu colchão moderno recomendado por especialistas é de espuma latex com densidade adequada para salvar sua coluna. Colchão de borracha.
Seu travesseiro moderno é recheado de latex, borracha. Seu sono é um horror. Sua coluna está em frangalhos.
O sofá de sua sala é cheio de espuma. As cadeiras acolchoadas em torno da mesa, mais polipropileno.
Até as cadeiras da cozinha, da piscina, da praia, das varandas, dos bares são de plástico.
Seu sapato tem sola de latex, sola de borracha. Seu tenis especial, mais borracha. Suas sandálias e chinelos mais borracha.
Mal a criança nasce e recebe logo um sapatinho pra proteger os pés do frio, do berço e do invisível. O sapatinho logo passa para um de sola de borracha.
Os bus, trens, aviões e até navios, cheios de borracha.
Pneus de carros e bikes, luvas de frio, tatames das academias, borracha, borracha. Asfalto, borracha, cidades borracha. Até os tapetes do banheiro, anti derrapantes, borracha.
Dormimos e acordamos sobre borrachas.
Respiramos e comemos resíduos de microplástico.
Vivemos e adoecemos montados em um mundo latex.
Estamos isolados da terra, da energia do chão, da areia, da grama. Perdemos contato com a infancia descalça, saudável.
Perdemos contato com a terra, nossa casa. Isolados com medo, protegidos da vida como se ela fosse a grande ameaça.
Andar descalço virou heresia, pecado, virou equivoco, simbolo de pobreza ou ate excentricidade.
Calce o sapato, menino! Quer adoecer, moleque? Menina descalça, onde já se viu?
Estamos adoecendo sobre borrachas.
Isolados da vida, ácidos por dentro e por fora.
É mais simples do que pensamos.
Andar descalço sempre que puder, deitar no chão vez em quando, deitar na areia, deitar na grama. Sentir a terra direto no corpo sem intermediários, sem borrachas, sem isolantes.
Desborrache-se!
Arthur Andrade Tree
Jornalista
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